Hoje digo tudo o quero, não deixo nada por dizer. Passei muito tempo a ouvir histórias sobre o que se devia ter dito e feito, e o tempo esgotou esses sonhos, essas vontades, esses segredos...
A Cátia diz que o que não se diz, na maioria das vezes, é o mais importante mas se eu não tivesse dito tantas vezes, e alto, o que sentia, hoje seria muito menos feliz.
O que não se diz fica pendente, faz-me prisioneira de mim, torna-me menos eu.
Hoje digo, as vezes que me apetece, que gosto dos meus amigos, que não, que me apetece, que não me apetece, que quero, que não quero, que estou feliz, que estou triste, que não me importo de ser desconcertante desde que não minta a mim própria.
Hoje tenho sempre tempo para aqueles que gosto e para desconhecidos, para ouvir, para falar sobre nada, para dar importância a pequenas coisas, para ser parva sem ter medo de o ser, para ser doce, para ser séria, para dar uma opinião, para dar colo, mimo, para receber, para adormecer quando estou cansada, para ser má...
O que não se diz não é o mais importante, o que não se diz corrompe, deixa mágoa, saudades, sonhos suspensos, é vazio...
Hoje, o que não se diz faz-me doer a alma, deixa-me com vontade de abanar o mundo dos outros, prefiro sempre saber...
Hoje, só hoje, não vou dizer o que quero!