quarta-feira, 4 de março de 2009

O Medo!



Fui criada com princípios morais comuns, só tinha medo do escuro, dos papões e de perder os que amava, este último foi o único medo que me ficou.

Hoje tenho uma tristeza infinita por tudo aquilo que teimamos em perder, por tudo o que os meus filhos e netos um dia enfrentarão, hoje vejo medo nos olhos de todos, jovens, adultos e velhos!

O que é que aconteceu conosco? Deveres ilimitados para cidadãos honestos, 100% de tolerância para manhosos, bandalhos, corruptos e oportunistas...

Que valores são estes? Os automóveis valem mais que abraços, mais vale parecer do que ser. Desde quando é que os valores que aprendemos passaram a ser ridículos?

Quero a honestidade como motivo de orgulho, quero a rectidão de carácter, a cara limpa e o olhar olhos-nos-olhos, quero a vergonha na cara e a solidariedade, quero a esperança, a alegria, a confiança...

Quero calar a boca de quem diz: "temos de calar quem fala verdade!", quero uma vida simples e verdadeira, quero a indignição perante a falta de ética e de respeito, quero que voltemos a ser "gente"...

Nunca saberemos se não tentarmos.

Meus amigos (acho que a todos posso chamar assim) estou suspensa há 4 meses, o processo está longe do fim mas não haverá ninguém que goste mais do serviço do que eu, poderão gostar igual mas mais não!

Estou impedida de fazer o que gosto, o que amo mas estou tranquila.

Compreendo sempre as razões de todos mas queria dizer-vos que se fosse a única contra este estado miserável na Saúde 24 o seria na mesma, de peito aberto e de consciência tranquila, para deixar de ver medo nos olhos dos meus amigos, dos meus colegas. Para ser fiel a mim.

Disse-vos quando fui suspensa que era um até já, que não desistissem, que confiassem. Continuo a dizer o mesmo porque eu também quero continuar a confiar, eu quero andar de cabeça erguida e saber que não traí os meus valores, os meus amigos, quero saber que fui leal.

Continuo a ser criança mas sem medos, percebi que já não existem papões, esses só existem na nossa cabeça e no nosso coração. Percebi desde cedo que temos tanta força em conjunto, que podemos arrastar o mundo com a mão se acreditarmos e eu acredito na Saúde 24.

Percebi que os bandalhos e os cobardes se alimentam do medo das pessoas de bem e por isso estarei onde precisarem de mim, na Saúde 24, na rua, na Assembleia da República, no fim do mundo se for preciso, mas estarei sempre lá!

Um beijo amigo e um abraço a todos os que se questionam sobre o que irá acontecer. Esta é a minha mensagem de esperança, como disse a Ana Passos: "continuemos famintos, continuemos tolos..."

4 comentários:

Astor disse...

Ainda há poucos dias dizia eu ao Kokas que brevemente as manobras e chico-espertices no nosso país deixam de ser notícia. Parece que já é tudo tão normal.. como se a anormalidade geral passasse a normalidade.

Conheço o teu caso e sei perfeitamente de que lado está a razão. E felizmente conheço alguém como tu que não teve medo em levantar a voz.

Tivessemos todos nós um bocadinho dessa tua coragem e as coisas poderiam ser diferentes.

Eu estou contigo! *

Tété disse...

Tens a rara capacidade de ser mais para os outros do que para Ti!

Estás sempre onde é preciso!

Tatiane R. disse...

Gostei do post. Não entendi muito porque não conheço o teu caso, mas vou continuar passando e conhecendo este espaço. Mas entre tantas, boa sorte!

Anónimo disse...

Então amiga, já soube que as coisas correram bem... pelo menos, aparentemente... não estive lá porque não pude e não chegeui a horas... mas sabes que esta luta também é minha... obrigada por seres como és...